Se anjos e demônios existem não poderei responder. Se vivi, respondo convicto que sim. Quando morrer saberei que vivi, e viverei sem nunca esquecer que posso morrer. E assim vou seguindo, caminhando, lutando, renegando, tropeçando, levantando, caindo, reerguendo-me... Porque a luta é diária, todos os dias são dias de escolhas. Dias de viver.
quarta-feira, 20 de janeiro de 2010
O que realmente importa.
quinta-feira, 14 de janeiro de 2010
Monólogo de um homem
... mas, se eu me jogar deste penhasco... mas, se eu não me jogar... e agora o que faço? Morrer ou não morrer? Matar-me e ser um assassino de minha própria alegria (alegria?) – tristeza (tristeza?). Antes de tudo isso não havia nada. Havia um vazio que agora parece que já não é mais. O encontro com este eco infinito que me parece vir debaixo mostra-me um medo que até aqui não havia manifestado-se. O medo da morte. Medo de viver nunca tive, até o fato que gerou o motivo por eu estar aqui com um pé solto no ar enxergando uma queda de 100 metros e o outro trêmulo atrás pendendo. Mas isso não vem ao caso. Como os pássaros conseguem jogar-se no ar tão sem medo? Ah! São suas asas. Porque não tenho asas? Seria mais fácil se podesse simplesmente voar para o sul e fugir do compromisso. A responsabilidade pela minha própria vida que agora me pesa não é tão doce quanto achei aos 18. Felizmente papai nunca me deixou usar a sua Colt. ... Gabrielle! Oh! ... Jeanne! Oh! ... Todas elas que me mostraram o que era o amor. Palavra vazia que dá mais raiva que alegria. Jogar-me-ei agora... Porque hesito? Covarde! Covarde! Nem isso consigo fazer direito. Não é tão fácil tirar a própria vida. E olha que sou eu o único aqui. Eu, o penhasco e esses pensamentos inquietantes. Porque simplesmente não fecho os olhos e finjo voar? Abro os braços e deixo o vento me guiar? Sou eu ou não o responsável pela droga dessa miserável minha vida? Quero morrer! Preciso morrer! Quero me fazer este favor. Não há verde nessas montanhas... O céu está tão limpo e claro. O sol tinha que estar brilhando tanto hoje? Manhã linda demais para tragédias. Ou seria tragédia maior ainda em uma manhã tão linda? Os olhos verdes de minha mãe ajudariam agora. Maldito velho bêbado. Deveriam tê-lo matado por dirigir aquela noite. Assassino! O melhor que fiz foi sair de casa. Mas hoje me encontro aqui também por ter fugido. Por ter começado mentindo. Enfrentar é para os corajosos. O que será de mim se não morrer agora? O que será de mim se eu morrer agora? Céu... Inferno... São aqui? Estão lá? Minha própria vida já foi um inferno. O que há de vir não pode ser pior. Será?
terça-feira, 12 de janeiro de 2010
Abertura
Viver é um Morrendo
Armando Batista
Era julho, e Armando odeia julho. Os ventos e o sol forte deixam ele com os lábios ressecados e sempre com sede. As crianças fazem barulho na rua, correm, gritam, se divertem, ele já não aguenta mais ver aquela despreocupada e feliz infância que o faz rememorar a sua.
O telefone toca na segunda mordida do pão com manteiga. Ele toma um gole de café e levanta-se para atender, quase sem vontade. Era Diogo.
– Hey Man! Está fazendo o quê? – Pergunta Diogo.
– (entre bocejos) Acabei de acordar. – Responde Armando.
– Quanto aquilo de ontem a noite... é...
– Cara, esquece! A amizade não se conta pelos anos e sim pela intensidade dela. É como a vida... Pelo menos deveria ser assim a vida: contada não pelos anos e sim pela intensidade que viveu todos os momentos.
– Vamos sair à noite?
– Tudo bem, me liga. Estou comendo para ir trabalhar, então...
– Ok! Até!
Armando desliga o telefone, dá mais um gole no café, mais uma mordida no pão, ascende o cigarro, pega o paletó e o chapéu no armador e sai pela porta. Seu pensamento, como de costume, era o mesmo: Droga de vida! Ter que ir trabalhar. Porque não nasci rico? Preguiça!
Chega ao trabalho. – Bom Dia! – Bom Dia! Sorri. Coça a cabeça, sobe as escadas e fecha-se no escritório. Sua secretária chama-se Glória. Uma loira, alta, olhos verdes, cabelos grandes, ondulados e volumosos. Ela possuía uma pinta entre a boca e o nariz, perfeitamente localizada à esquerda. Era a pinta que todo homem diria ser o chamado do pecado. Pela cabeça de Armando era a pinta. Mas, toda a Glória era o chamado do pecado. Curvas, olhos, cabelos, pinta, tudo perfeito. Para a maldade. A mulher exalava o perfume do amor e a voz das damas da noite. Era a caracterização perfeita para o diabo desvirtuar os homens de bem.
– Senhor Batista. A companhia de telefone ligou, vão mandar uma equipe para resolver o problema. – Anunciou Glória.
– Obrigado Glória. – Falou Armando.
Ele não deixava de contemplar a beleza daquela mulher quando ela voltava de um recado dado. Ela girava o pé esquerdo, enquanto o direito a apoiava, fazendo seu estupefante glúteo querer se libertar da saia. Seu rosto virava depois, deixando o cabelo para trás que levemente acompanhava o ritmo. Ele quase sempre morria de tesão, apenas com esse movimento. Mas, sempre se conteve. Nunca passou dos seus pensamentos. Ele nem mesmo sabia se ela tinha algum compromisso com alguém. Preferia ficar na defesa.
O expediente acabou, como sempre acabava. Tudo igual. Glória entrou na sala umas cinco ou seis vezes, e sempre o movimento fazia Armando delirar por dentro, o que refletia em suas calças de linho. Pediu para ir embora as dezoito horas, e ele como sempre disse sim. Ela deu boa noite, ele respondeu, e logo depois também foi embora.