segunda-feira, 25 de abril de 2011



Porque parte do meu trabalho é acompanhar uma professora de filosofia em pelo menos duas aulas por semana.
~ E eu consigo passar pelo menos 45 minutos sentado em uma cadeira sem fazer nada?
~ Não, não consigo.
Eis que durante minha observação da professora, sem nada mais a fazer, abro o caderno e começo a escrever sem pretensão nenhuma, como sempre, sem pensamentos prévios, sem saber do que vou falar ou o que estou falando, simplesmente escrevo como se o lápis me tomasse e falasse por mim.
E ele, o lápis, parece saber falar de mim a mim mesmo tão melhor que qualquer um.
E ele escreve:

“Não tenho muita paciência quando sei o fim de alguma coisa. Não tenho muita paciência quando sei como se resolve alguma coisa. Não tenho muita paciência quando sei, do que estou esperando, como e porque ele virá. Não tenho muita paciência quando quero algo já. E, normalmente, quando quero algo, é já! O meu querer é quase sempre instantâneo, momentâneo, como um vulcão que explode e jorra lava, como um furacão nível cinco que tudo arrasta.
Tem como alguma paciência conter esse ímpeto e tempestade?
Já fui alguém de extrema e infindável paciência, como um grande e virtuoso monge tibetano, porém foi em tempos remotos, quando não sabia da arte de viver feliz intensamente, sentindo ao máximo os prazeres “efêmeros e superficiais”.
Há algo mais belo e mais saboroso que o desfrute, que o deleite, do querer, ter e sentir?
Por isso não tenho paciência. Paciência de esperar pelo prazer que me aguarda logo ali. Não sei ser “meio termo”, ou faço muito ou não faço nada. Ou sou mar revolto ou lago morto. E o nada me dá agonia..."

quarta-feira, 20 de abril de 2011

A Olheira¹ - Torquato Neto²



Reparo a cor do dia
Reparo a torre da tevê
Não há madrugada mais fria
Do que esses dias
Sem você;
O arrebol no campo de futebol
A cor da flor
Do mal
E a torre da tevê:
O Sol o Céu o Sal
O azul – você não vê
Deu meia-noite no meio dia
Casa vazia
Entre pra ver

Esqueça
Tudo o que eu digo
São poucas palavras
E todas marcadas
Passos na escada
Meus olhos nos teus –
Algumas palavras
Pra não dizer adeus;
Esqueça agora
Repare a cor do dia
(chove lá fora)
Entre pra ver:
A madrugada fria, esses dias
E a torre da tevê.

__________________________
¹ Poema publicado em 24 de julho de 1971 no Suplemento Plug, do extinto Correio da Manhã.
² Torquato Neto (1944 – 1972), poeta, jornalista, letrista de música popular, experimentador da contracultura. http://pt.wikipedia.org/wiki/Torquato_Neto

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Deem asas à imaginação e grudem os lápis nas mãos.



O que seria de Patativa do Assaré se não fossem seus erros? Sua simplicidade em “adevogar” sobre seu sertão. Sobre sua terra e sua gente? Quando o “erro” faz perder o sentido da poesia? O “erro” faz parte da significância da poesia de Patativa.
Se não fossem os erros... (ok, de agora em diante já paro de chamar de erro, chamarei de peculiaridades da criação de cada gênio particular que não se enquadram em normas e padrões) ... Se não fossem as peculiaridades da criação de cada gênio particular que não se enquadram em normas e padrões nada de novo seria criado.
Muito do novo vem do erro de um velho. Ou seja, muito do recentemente descoberto foi um desvio do padrão do antigamente descoberto. Amo o futurismo como um não futur-ismo, amo o surrealismo como um não surreal-ismo, eis que o entendimento de virar escola é perder o sentido de criação autêntica.
Se me fiz entender, bem... se não fiz, adeus. Deem asas à imaginação e grudem os lápis nas mãos.

quinta-feira, 14 de abril de 2011



Ei borboleta sai desse teu casulo. Eu sei que daí de dentro o mundo parece injusto, tempestuoso, perigoso em contraposição ao doce sabor da quietude morna. Eu sei que aí dentro as coisas parecem não terem tanta força para te atingir. Mas, aqui fora também existe vento favorável ao teu voo.
Ei borboleta, vem se lançar nesse céu azul cheio de algodões-doces. Vem sentir a brisa passar entre tuas antenas. Abre as asas, quebra essa segura casca e arrisca sentir a escorregadia liberdade em vida afora.
Deixa o sol te beijar. Deixa o vento te abraçar. E, se o pardal quiser de ti se alimentar eu não deixarei. Estarei aqui para te proteger sempre que puder. Eu posso te amar. Eu já te amo mesmo sem te ver. Vem borboleta, mostra ao mundo tua beleza!

terça-feira, 12 de abril de 2011

Sobrancelhas Arqueadas ¹


Sobrancelhas arqueadas,
Olhos do sol quando nasce,
Boca pequena e bem feita,
Foi com que tu me mataste.

Sobrancelhas arqueadas,
Olhos que roubam a vida,
Esta feição de teu rosto
Faz a minha alma perdida.

Olhos pretos matadores,
Cara cheia de alegria,
Um beijo da tua boca
Me sustenta todo o dia.
_____________________
¹ Canção popular sergipana.

domingo, 10 de abril de 2011

O que eu quero


Eu quero beijar tua boca
Escutar tua voz rouca
Na noite fria e escura

Eu quero tua pele na minha
Você chegando mansinha
Nessa noite de lua

Eu quero nós dois juntinhos
Mexendo devagarinho
Pra te perceber nua

Eu quero nós dois em laço
Perder-me no teu abraço
E escutar: “eu sou sua”.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Os erros são tão bons quantos os acertos?


Creio que muitos, talvez todos de certa forma, sabem que as relações humanas são profunda e amplamente complicadas, envolvem milhares de pressupostos, detalhes circunstanciais que podem variar de forma imprevisível no ápice do momento de contato.

Querer agradar a todos, ser fácil, flexível, compreensível, amável, prestativo não tem grandes problemas quando se entende que nem sempre todos, a todo momento, irão estar abertos a receber de forma “entendizente” suas ações. Nem sempre agradará a todos em todos os momentos. Este é o ponto.

Porém, não se pode amargurar o fracasso de uma relação. Sentir-se culpado por não conseguir fazer com que um, outro, ou alguém perceba sua intenção, sua razão de agir, é louvável, pretendendo ser este um ponto à reflexão sobre si mesmo, mas pode vir a ser um abismo infinito, abissal, em que correrá o risco de se perder na queda inebriante e escura sem um raio de luz ou de chão para se impulsionar de volta para o topo.

O que estou querendo dizer é: erramos, e se percebemos que erramos,  podemos refletir sobre o erro e tentar melhorar sem precisar se angustiar com o fato que nos relembra sempre que dá as caras. Queremos acertar sempre, isso é ótimo, mas para acertar vinte vezes... Quem nunca errou uma? Quem nunca errou duas ou três vezes? Lembre-se dos seus acertos e de como pode vir a acertar outras vezes adiante.

sábado, 2 de abril de 2011

Mantra Seis - Sri Isopanisad





yas tu sarvāṇi bhūtāny
ātmany evānupaśyati
sarva-bhūteṣu cātmānaṁ
tato na vijugupsate


"Aquele que vê todas as coisas relacionadas com o Senhor Supremo, que vê todas as entidades como Suas partes e parcelas e que O vê dentro de todas as coisas, nunca odeia nada nem ninguém." 

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Posso ser uma péssima lembrança de alguém, talvez de alguns, porém sei que estou nesse mundo para evoluir, tentar ser uma pessoa melhor tanto para mim, quanto para os outros e para com o Senhor, portanto, eis-me aqui dizendo: o hoje que você vê em mim pode parecer com o ontem que você teve contato no passado, porém, se além de ver, preocupar-se em se aprofundar e entender os caminhos pelos quais percorri, e todos nós percorremos, verá uma enorme mudança, creio eu para frente, para cima, para melhor...