Porque parte do meu trabalho é acompanhar uma professora de filosofia em pelo menos duas aulas por semana.
~ E eu consigo passar pelo menos 45 minutos sentado em uma cadeira sem fazer nada?
~ Não, não consigo.
Eis que durante minha observação da professora, sem nada mais a fazer, abro o caderno e começo a escrever sem pretensão nenhuma, como sempre, sem pensamentos prévios, sem saber do que vou falar ou o que estou falando, simplesmente escrevo como se o lápis me tomasse e falasse por mim.
E ele, o lápis, parece saber falar de mim a mim mesmo tão melhor que qualquer um.
E ele escreve:
“Não tenho muita paciência quando sei o fim de alguma coisa. Não tenho muita paciência quando sei como se resolve alguma coisa. Não tenho muita paciência quando sei, do que estou esperando, como e porque ele virá. Não tenho muita paciência quando quero algo já. E, normalmente, quando quero algo, é já! O meu querer é quase sempre instantâneo, momentâneo, como um vulcão que explode e jorra lava, como um furacão nível cinco que tudo arrasta.
Tem como alguma paciência conter esse ímpeto e tempestade?
Já fui alguém de extrema e infindável paciência, como um grande e virtuoso monge tibetano, porém foi em tempos remotos, quando não sabia da arte de viver feliz intensamente, sentindo ao máximo os prazeres “efêmeros e superficiais”.
Há algo mais belo e mais saboroso que o desfrute, que o deleite, do querer, ter e sentir?
Por isso não tenho paciência. Paciência de esperar pelo prazer que me aguarda logo ali. Não sei ser “meio termo”, ou faço muito ou não faço nada. Ou sou mar revolto ou lago morto. E o nada me dá agonia..."