quarta-feira, 20 de abril de 2011

A Olheira¹ - Torquato Neto²



Reparo a cor do dia
Reparo a torre da tevê
Não há madrugada mais fria
Do que esses dias
Sem você;
O arrebol no campo de futebol
A cor da flor
Do mal
E a torre da tevê:
O Sol o Céu o Sal
O azul – você não vê
Deu meia-noite no meio dia
Casa vazia
Entre pra ver

Esqueça
Tudo o que eu digo
São poucas palavras
E todas marcadas
Passos na escada
Meus olhos nos teus –
Algumas palavras
Pra não dizer adeus;
Esqueça agora
Repare a cor do dia
(chove lá fora)
Entre pra ver:
A madrugada fria, esses dias
E a torre da tevê.

__________________________
¹ Poema publicado em 24 de julho de 1971 no Suplemento Plug, do extinto Correio da Manhã.
² Torquato Neto (1944 – 1972), poeta, jornalista, letrista de música popular, experimentador da contracultura. http://pt.wikipedia.org/wiki/Torquato_Neto

Um comentário:

Thaíla disse...

♫ madrugada é solidão, parece estar vindo alguém, virou alucinação, olho e não vejo ninguém =p

Há coisas q demoram. Doidamente. Porque casa vazia, madrugada fria e frases incompletas é um breu.

Beijo Fridinho.. to com um pouquim de saudade!